Sucesso & Fracasso O sucesso, o fracasso e o Campeonato do Mundo de Futebol

Julho 1, 2018Por Pedro Colaço

Em período de Campeonato do Mundo de Futebol é quase impossível não fazer alguns paralelismos. Seleções ditas favoritas tiveram grandes dificuldades em passar a primeira fase (e um dos favoritos do costume e campeão habitual foi mesmo eliminado nesta fase) e seleções mais “pequenas” e modestas conseguiram avançar. É parecido com a história das grandes empresas e das startups nas últimas décadas. O mundo muda, cada vez mais rápido, e a necessidade de adaptação e renovação é absolutamente essencial. Mas creio que isto não é grande revelação, trata-se de uma tendência generalizada em vários aspetos da vida.

A questão fundamental, em meu entender, tem que ver com as perceções e os hábitos enraizados. Apesar de sabermos que a vida está mais difícil para os instalados e que há muitos pequenos a surgir e a desafiar, a maioria de nós, se tivesse de apostar, continuaria a apostar nos mesmos do costume. Por outro lado, os mesmos do costume, apesar de reconhecerem verdade no facto, continuariam a esperar ter sucesso. Ou seja, ninguém nega esta realidade mas acreditamos que existem exceções (as que nos interessam). No fundo é uma espécie de paradoxo.

A verdade é que o sucesso não é certo (ohhh, surpresa!), mas o fracasso também não (ufa, que alívio!). Não assumir qualquer cenário como certo dá-nos a responsabilidade de o criarmos, o que é muito mais recompensador, qualquer que seja o resultado final (ou intermédio, conforme a perspetiva). Caso esse resultado não seja o pretendido, é ainda nossa responsabilidade escolhermos como vamos reagir. E a verdade é que o futebol é nos dá boas analogias: há equipas que saem de cabeça erguida e outras de cabeça perdida, há umas que lutam até ao fim e outras que se entregam, há aquelas que ficam a olhar para trás e outras que só querem olhar para a frente.

Hoje vi uma atitude simples e concreta face ao fracasso eminente. No minuto 92 a Alemanha sofre um golo que basicamente deita por terra as suas expetativas de passar (como sempre) à fase seguinte da prova, depois de um lance de avaliação discutível que obrigou a uma paragem de alguns minutos para tomada de decisão. Assim que o árbitro anunciou a sua decisão, Thomas Muller (jogador alemão) não hesitou: perguntou claramente ao árbitro quanto tempo ainda haveria para jogar e comunicou isso à restante equipa. Podia ter ficado a reclamar ou a queixar-se, como já vimos tantos outros fazerem. Podia ter baixado os braços e mostrado desânimo. Todavia, optou por uma atitude altamente pragmática, pois era a única que ainda poderia evitar o fracasso.

Mas não evitou: a Alemanha ainda sofreu outro golo e acabou por fracassar. Porém, encarou a realidade, e tentou reprogramar-se para ela. Muller fez o que podia, escolheu a sua atitude. Primeiro, foi rápido a reagir (foco na solução e não no problema), segundo, redefiniu o seu objetivo num novo timing (quais são as novas regras do jogo?), terceiro, envolveu a restante equipa (sozinho seria impossível). Não evitou o fracasso, mas chamou a si a responsabilidade e serviu de exemplo para outros e para o futuro. Muitas vezes isso já é um indicador de sucesso.

Pedro Colaço