Eles chovem de todos os lados, e há para todos os gostos. Usando uma terminologia popular até se pode dizer que “são mais do que as mães”, o que não deixa de ser é verdade porque a vida de cada pessoa (ou de empresa) tem milhões de exemplos.
Todos temos consciência da sua utilidade: os exemplos são uma ótima forma de passar informação prática, de a memorizar e recordar e de nos fazer poupar tempo a descobrir ou concluir coisas que outros já o fizeram antes de nós. No fundo gostamos de exemplos porque parecem ser bons atalhos (algo que já funcionou pelo menos uma vez). E são tão cativantes porque contam histórias (e quem não gosta de uma boa história?) que aconteceram realmente (isto é mesmo verdade!) com alguém parecido connosco (se aconteceu com ele/a pode acontecer comigo!).
Porém, na ânsia de resultados rápidos, e com os sonhos acalentados, muitas vezes caímos num erro: a sua generalização. No fundo trata-se de um desvio cognitivo perfeitamente comum: de alguns exemplos pontuais se inferem conclusões gerais. Porquê? Porque queremos acreditar (hello, x-files fans).
Todos os autores de conteúdo (eu próprio incluído, claro) recorrem a exemplos para comprovar aquilo que afirmam, as suas teorias, a forma como veem o mundo. A questão é que, naturalmente, vamos à procura daquilo queremos demonstrar, e visto que há exemplos para tudo… Mas há que reconhecer que existem excelentes livros com ótimos exemplos, que, por exemplo, não nos recordaríamos se não fossem os exemplos. Não é, pois, a veracidade dos exemplos que está em causa, mas sim a sua extrapolação.
É que há essencialmente dois fatores que influenciam a capacidade de replicação dos exemplos nas nossas vidas: o contexto e a pessoa.
Por exemplo: o valor de uma garrafa de água no deserto é muito diferente fora dele. A água tem um certo valor intrínseco natural, e ninguém duvida da sua importância, mas o seu valor difere conforme o contexto. Da mesma maneira, há exemplos perfeitamente válidos, que noutro contexto ou com outro enquadramento, deixam de ter a mesma validade.
Outro exemplo: qual a utilidade de um pente para um careca? O pente não deixa de ser algo útil, mas a sua utilidade depende do utilizador. Há imensos exemplos muito úteis, mas para outros, pois para nós podem não servir.
A dificuldade está em conseguir percecionar estas diferenças, pois quando caímos no erro da generalização estamos a assumir que o contexto (o ambiente, o enquadramento, o cenário, o mercado, etc.) é comum e que a pessoa (as características gerais, as capacidades, a inteligência, a atitude, etc.) são semelhantes. E na maioria das vezes não são!!!
Imitar exemplos de sucesso não o garante, da mesma forma que evitar exemplos de fracasso não o previne. O segredo está em conseguir olhar para os exemplos de uma forma relativa e não absoluta, comparando o contexto com o nosso e a pessoa connosco. É certo que é extremamente difícil conseguir reunir toda esta informação, mas só isso já nos obriga a pensar e a questionar – e isto é suficiente para não aceitarmos ingenuamente este ou aquele exemplo.