De manhã não as encontrei. Depois lembrei-me: estão por passar… Aquelas calças. Pensei: escolher outra opção semelhante (bolas, não era o meu plano inicial!) ou escolher algo completamente diferente (passar a ferro não foi mesmo opção!). Decidi: porque não aproveitar o pequeno “obstáculo” para escolher algo que me faz sentir bem, algo como calções e chinelos! Ahhh, liberdade 😊
Quantas vezes nos resignamos a pequenas dificuldades ou condicionantes, seguimos os mesmos hábitos de sempre, e acabamos por ficar desconfortáveis o resto do dia? (já não estou a falar de roupa!) Todas as situações são oportunidades para escolher. E isso depende apenas de nós. Ou será que não? Ora, depende da perspetiva… A maioria de nós dá importância a outros dois fatores, além da nossa própria vontade individual: o ambiente ou contexto, e os outros.
O ambiente é claramente um fator a ter em conta (eu olhei pela janela antes de fazer a minha opção) pois podemos acabar por ter dissabores desnecessários com as escolhas que fazemos. Mas ainda assim depende de como valorizamos as coisas (e não somos todos iguais, certo?). Qual é a temperatura mínima que eu estou disposto a aceitar para ter o prazer de andar de chinelos hoje? E onde vou estar, o que vou fazer, em que contexto? Vou para o escritório, tenho reuniões, quais são as “regras”, o que é “aceitável”? Claro que é mais fácil calçar uns sapatos iguais aos dos outros, ficamos mais parecidos, não destoamos, mas também podemos ficar com umas bolhas ou uns calos e isso é capaz de incomodar um bocadinho (não obstante haver uma panóplia de soluções para estes males – duplo incómodo). De quem é a escolha afinal?
Por outro lado, os outros são muitos, pois podem ser os mais próximos, os colegas, os conhecidos e até os desconhecidos. Todos têm a capacidade de influenciar as nossas escolhas, não é verdade? Seja pelo que dizem, pelo que não dizem, pelo que pensam ou deixam de pensar, pelo que achamos que dizem e não disseram, pelo que supomos que pensam ou poderão até eventualmente vir a pensar. Com isto não estamos mais do que a ceder-lhes poder sobre nós. Mas se calhar eles é que sabem o que é bom para nós… De quem é a escolha afinal?
É claro que a cultura no mundo das empresas ainda está longe deste tipo de liberdades (é verdade que o Mark Zuckerberg é visto várias vezes de chinelos mas não sei qual o nível de transversalidade disso na sua empresa, além do que naturalmente haverá organizações que são exceções). A formatação ainda é algo que está bem presente. Fala-se na cultura, na identidade individual, na liberdade de expressão porque são conceitos vagos, agora o que temos calçado (ou vestido) é bem mais concreto, não é? Também neste aspeto a nova geração de empreendedores pode fazer a diferença, dando o exemplo, libertando-se de preconceitos e normas. O empreendedorismo não se limita a vender produtos e serviços que facilitem a vida das pessoas, pode também ajudar a transformar a sociedade.
O que vais escolher para calçar amanhã?